Congresso debateu Florestas e a Sustentabilidade

Congresso debateu Florestas e a Sustentabilidade

Congresso debateu Florestas e a Sustentabilidade
De 24 a 26 de setembro, Nova Prata foi palco de palestras e debates sobre Florestas e Sustentabilidade no 11º Congresso Florestal Estadual do Rio Grande do Sul e 2º Seminário Mercosul da Cadeia Madeira.

Pelas dependências da Sociedade Grêmio Pratense passaram palestrantes de renomes, autoridades do contexto florestal e um público estimado em 1.200 pessoas, formando principalmente por técnicos do setor, acadêmicos de vários estados do Brasil e alunos do Ensino Médio das escolas da região que participaram ativamente no questionamento aos palestrantes.

A programação temática foi elogiada pelos participantes e pelos palestrantes pela lógica na sequência dos assuntos, além da qualidade das apresentações. Essa observação foi feita também pelo Professor Doutor Ronnie de Camino, chileno, consultor internacional radicado no CATIE, na Costa Rica.

A grande maioria dos palestrantes e panelistas são especialistas nas suas áreas de atuação, possuidores de currículos invejáveis. A palestra sobre Mudanças Climáticas apresentada por Moacir Berlato, da UFRGS, tratou de pesquisas recentes que comprovam o aquecimento global, sem desconsiderar autores, como Molion, que foi seu orientador de doutorado no INPE (Instituto de Pesquisas Espaciais), que tem fortes argumentos para explicar a grande influência dos vulcões no aumento de temperatura do planeta.

Paulo de Carvalho, também da UFRGS palestrou sobre o "Seqà¼estro de Carbono em Diferentes Sistemas de Cultivos", demonstrando com dados de suas pesquisas recentes e também de seu colega Cimélio Bayer, realizadas no Rio Grande do Sul, que é possível manejar culturas de grãos e pastagens de maneira a reduzir a emissão de gases para atmosfera, que são responsáveis pelo "efeito estufa" e o consequente aquecimento global.

No painel Clima e a Produção Primária, Homero Bergamaschi, da UFRGS, Ronaldo Matzenauer, da Fepagro, e Julio Renato Quevedo Marques, da UFPEL, passaram informações importantes sobre o clima do Estado. Bergamaschi explicou, por exemplo, porque o Rio Grande do Sul, entre os grandes produtores de grãos do país, destaca-se em relação aos demais somente com a cultura do arroz irrigado. Nas demais culturas é o quarto colocado. É porque nos outros estados existe um regime de chuvas bem definido, enquanto que no RS há muita variação de um ano para outro. As previsões para o próximo verão são, em geral, de chuvas abaixo do normal. O que significa possibilidade de falta de água em certos períodos. Também foi mostrado que a soja, proporcionalmente, consome mais água que o eucalipto. O painel Sistemas Produtivos Integrados, com apresentações do Vanderley Porfírio da Silva, da Embrapa Florestas, Alexandre Costa Varella á da Embrapa CPPSUL e Carlos Nabinger á UFRGS, ficou demonstrado que a integração lavoura-pecuária-floresta é uma forma de melhor uso sustentável do solo e também maior oportunidade de aumento de renda para o produtor rural. No caso da integração com o campo nativo, Carlos Nabinger apresentou dados que permitem elevar a produtividade pecuária de 70 kg/ha/ano de ganho de peso vivo para mais de 1.000 Kg/ha/ano, dependendo do grau de intervenção tecnológica e aporte de recursos, utilizando manejo sustentável do campo nativo. Somente com manejo, de custo zero, seria possível triplicar a produtividade pecuária do Estado.

O deputado federal Luiz Carlos Heinze, que foi um dos relatores do projeto do Código Florestal, deu uma palestra que atraiu um público mais numeroso. Declarou que finalmente o Código Florestal se encaminha para aprovação final. Foi o resultado de muitos debates e muita negociação para chegar a um texto que representasse os anseios de ruralistas e ambientalistas. A palestra de Joberto Veloso de Freitas á Serviço Florestal Brasileiro á MMA, sobre Inventário Florestal, esclareceu a respeito da condução do inventário florestal e sua importância para orientar políticas públicas para o setor. Ronnie De Camino Velozo á CATIE e Diretor da Cátedra Latino-americana de Gestão Florestal Territorial, apresentou o projeto "Os bosques modelos como uma opção de manejo sustentável de territórios". Uma nova ideia que socializa o estabelecimento de bosques modelos, com participação das próprias comunidades que decidem como o projeto será conduzido. Isto é, levando em conta os vários fatores que devem ser considerados nesse tipo de proposta que, por sua vez, serve de base para o manejo sustentável de territórios. Roberto Ferron á DEFAP/SEMA á enfatizou a importância do manejo sustentável das florestas e apresentou o projeto da SEMA de "Reposição Florestal", com foco no plantio do pinheiro brasileiro á Araucária angustifólia e falando de novos métodos de plantio dessa espécie.

Paulo Antonio de Almeida Sinisgalli á USP - SP tratou do "Pagamento de Serviços Ambientais" e explicou, inicialmente, a diferença entre serviços ambientais e serviços ecossistêmicos. O primeiro é quando além da natureza existe alguma complementação e o segundo é quando somente a natureza se oferece como cenário para admiração e observação, sem complementos. Quando na mata nativa o pássaro oferece seu canto sem receber nenhum complemento. No segundo caso o proprietário da mata oferece alpiste para o pássaro, um complemento, além do ambiente da mata nativa. Explicou o que acontece na Costa Rica, primeiro país a regular e estabelecer pagamentos por serviços ambientais. No Brasil, práticas agrícolas que, por exemplo, resultem em melhoria da qualidade da água que é servida para a população, poderiam receber pagamento por esse serviço ambiental. Mas, ao que parece, ainda há que ser percorrido um longo caminho para que esse assunto seja estabelecido e reconhecido.

Manejo Florestal na Fazenda Tupi, projeto que já tem 22 anos de duração, foi apresentado pelos dois professores/pesquisadores que têm conduzido o trabalho ao longo do tempo. Na primeira parte o Professor aposentado da UFSM, Doádi Brena, relatou o histórico da fazenda e a situação da floresta de Araucária no início do trabalho. A seguir apresentou dados, com a evolução positiva da floresta, a partir de uma situação de manejo inadequado e os resultados depois de quase duas décadas de utilização dos recursos florestais com base no manejo sustentável. O professor Solon Jonas Longhi da UFSM fez apresentação de um trabalho de tese de doutorado da UFSM, cujos resultados mostraram que uma exploração leve da madeira, com corte de 20% das árvores disponíveis, permitiu novos corte com ciclos de 8 anos, enquanto que o corte pesado, aproveitando a totalidade das árvores disponíveis resultou num ciclo de 36 anos, sendo menos eficiente e menos sustentável que o primeiro caso.

O painel Mercado Global de Produtos e Serviços Florestais e as Perspectivas para o Brasil e Rio grande do Sul, falando sobre Painéis de Madeira Reconstituída, Jefferson Dorigon Garcia, do STCP Engenharia e Projetos, fez uma ampla exposição sobre a situação dessa área no país e no RGS. Com dados estatísticos, fez projeções, relacionando produção com a demanda futura.

Ivo Cansan, presidente da Associação das Indústrias de Móveis do RGS á MOVERGS expôs a situação gaúcha e brasileira em termos de produção e mercado de móveis. Embora Bento Gonçalves ocupe posição de destaque no cenário brasileiro, seguido de outros municípios gaúchos, existiria espaço para novas indústrias do setor. Entretanto, algumas empresas importantes migraram para outros estados da federação porque cansaram das dificuldades encontradas para permanecerem no Estado. Morosidade e entraves burocráticos foram apontados com as principais causas para obtenção do licenciamento ambiental.

Antonio Francisco Jurado Bellote da Embrapa Florestas palestrou sobre "Florestas Energéticas á Cenário Atual e Perspectivas para o Brasil. O palestrante enfatizou a importância das florestas como fontes de energia renovável. As várias formas de uso de produtos florestais. O elevado consumo de lenha como fonte de energia no caso do Rio Grande do Sul.

Potencialidades do Turismo no Espaço Rural da Metade Sul do RGS foi o tema de Eurico de Oliveira Santos, da UCS. Explicou a diferença entre agro turismo e turismo rural. Enquanto o primeiro não tem o turismo como principal atividade, o segundo tem no turismo a sua fonte de renda. Suas pesquisas na metade sul do Estado mostram aspectos interessantes. Um levantamento bastante completo feito inicialmente permitiu o acompanhamento da evolução do turismo rural nessa parte do Estado. Embora algumas propriedades tenham se ajustado a essa nova atividade, outras experimentaram e desistiram num tempo relativamente curto. Algumas razões foram apresentadas para a "morte das pousadas": falta de apoio do poder público para maior desenvolvimento da atividade; falta de planejamento e preparo para a atividade; falta de conhecimento sobre a atividade antes de iniciar a oferta desse tipo de serviço.

O painel Políticas Públicas para o Setor Florestal contou com os seguintes especialistas: Marcus Vinicius da Silva Alves á Diretor de Concessões Florestais do Serviço Florestal do MMA; Claudio Dilda á Ex-Secretário do Meio Ambiente do Estado; Ricardo de Faria á BRDE (que substituiu Carlos Ponzoni); e Marco Antonio Trisch Mendonça á Diretor do Departamento de Recursos Hídricos da SEMA.

Marcus Vinicius fez uma consistente justificativa para as concessões no plano federal. Esclarecendo dúvidas e refutando algumas críticas que tem sido feita sobre o assunto. Baseou-se no fato de que uma floresta para ser conservada deve ser utilizada através de um plano de manejo sustentável. Claudio Dilda, com sua experiência de ex-secretário do Meio Ambiente, tocou nos pontos críticos do licenciamento ambiental. Serviço prestado pelo poder público que tem sido muito criticado por empresários e produtores rurais. E, como já foi mencionado, está provocando a migração de empresas para outros estados. Enfatizou que o licenciamento é importante e necessário, mas não pode transformar-se numa dificuldade a mais para o desenvolvimento de projetos de interesse do Estado.

Ricardo de Faria expôs as linhas de financiamento do BRDE, detalhando os diversos programas com suas características e exigências. Trisch Mendonça apresentou o Zoneamento Ecológico Econômico do Estado. Explicou como está sendo concebido e que, ao ser implantado, deverá constituir-se numa principal referência para futuros projetos com implicações ambientais.

No encerramento oficial dos eventos, o presidente, Aino Jacques, colocou a palavra à disposição para que fossem sugeridas pautas a serem redigidas no documento final do 11º Congresso Florestal Estadual do Rio Grande do Sul e 2º Seminário Mercosul da Cadeia Madeira que será encaminhado aos órgãos competentes estaduais e federais. Em síntese, os pronunciamentos versaram sobre a necessidade de critérios claros e objetivos para o licenciamento da Sema, principalmente ao setor florestal e em atendimento ao novo Código Florestal.

O professor doutor Aino Jacques agradeceu à s equipes voluntárias de trabalho, que fizeram mais um Congresso que acontece há 44 anos. Os eventos encerraram, juntamente com o Sindimostra 2012, comemorando também os 45 anos da Universidade de Caxias do Sul á UCS, com a belíssima apresentação da Orquestra da UCS.




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